quarta-feira, dezembro 30, 2009

Ser lápis-lazúli


As palavras que me cobrem são como um espelho envidraçado,
Saudosas ao longe, ao perto inquebráveis
As palavras são cobertores de alma, essas silenciosas
Ora me chamam, ora me dançam.

Daí eu fugir, por somente nelas eu mesma me reflectir
E assim pensar que alguma dor que não me pertença,
Tenha fugido comigo também. Aquecem as palavras de amor
Além, até nada mais se ouvir.

terça-feira, dezembro 29, 2009

Perspectivas


Não me digas o que ser.

quinta-feira, dezembro 24, 2009

Canela Tangerina Cenoura



Trespassei a porta. Ah o ar fresco da rua, o azul acinzentado acima de mim! O cheiro a Natal que invadia o lá fora solitário, através das janelas quentes, iluminadas. Ouviam-se gargalhadas estridentes e conversas de mesa alegres. Ali, à minha volta parecia reinar uma calmaria apaziguante, como se todo o mundo tivesse decidido que hoje, hoje era dia para estar em casa, aconchegados pelos que mais amamos, aninhados a sorrisos deliciosos, açucarados. Fiquei ali a saborear aquilo tudo sem pressa nenhuma; as árvores estáticas, a relva húmida, o cheiro a terra, o vento doce na minha cara. Naquele lusco-fusco entardecido, ao longe apenas se via as milhares de janelas amarelas vermelhas reluzentes, tudo parecia tão confortável e seguro. A paz do silêncio. Como se os ponteiros do relógio finalmente tivessem congelado com este frio. Que bom, pensei. Tão boa esta sensação, de poder sentir devagarinho o abrandar de tudo.
Entrei de novo em casa, um perfume a canela tangerina cenoura preenchia o ar. Sonhos. Corri, abracei tudo, abracei-me, abracei o medo, algum receio que alguma vez me pudesse ter tocado. E comi sonhos atrás de sonhos, senti-me quente, livre. Com os lábios cheios de açúcar sorri de corpo inteiro, olhei em volta e pensei, pode ser algo assim tão perfeito?

Um Natal adocicado e aconchegador a todos!

quarta-feira, dezembro 23, 2009

Eléctrico do meio-dia


Pêsames é uma palavra tão feia.
Acho que até chega a ser uma não-palavra.
Sabes o que me lembro de ti? O cheiro a castanhas, nós mergulhados pelas ruas da menina Lisboa, eu era apenas uma pequena sonhadora de canudos dourados pelo sol aconchegador. Lembro-me de gatos, os teus gatos, e da minha relação com eles de puro e duro amor-ódio. E de uma casa de gelados. Cinco pormenores nossos. Antes que pudesse reagir, gritar, antes de mais nada a parede engoliu-me. Malandra não é? Dei por mim estava no chão mais o meu Sebastião, a tentar recuperar o fôlego completamente desatinado. Foi uma revolta por não teres estado presente, por eu não saber lidar com a palavra «morreste», por não conheceres a minha loucura, os meus rabiscos, a minha sede de voar cada vez mais alto. Desabou tudo, e nem sequer foi por ti. Foi pelos estranhos que tive de "conhecer" há um bocado enquanto tu estavas na sala ao lado... decerto não estavas, eles é que acreditam que sim. E lembram-se do meu herói? O poeta interventor de olhos verdes amarelos cinzentos? Hoje só quis ser abraçada por ele como há muito tempo não o queria. Todo o meu peso acumulado desmoronou sobre ele. Ele abraçou-me com a força de um avião, eu senti-me mais leve. Eu e o pai acreditamos na teoria do espírito livre. Que se estás, estás por aí, na cópula das altas árvores, amigo intimo de coloridos pássaros viajantes. E eu? Guardo em mim o cheiro familiar a castanhas e a imagem de uma menina de canudos dourados pelo sol de mão dada com um homem, que em tempos fora seu avô.


O espalhafato do silêncio


Imagino-me deitada. Quase triste, quase. Embaciada pelo tempo, abraçada por livros. Imagino-me deitada a tentar agarrar-me, a tentar trazer-te de volta para este mundo enchapelado, onde a chuva não se ouve mas sente-se e onde prédios caiem sem mais nem menos. Como se as obras não fossem suficientes, e a restauração de algo maior e melhor tivesse falhado. Não há verbas. Eu acho que não há verbos. Num quarto, a criar laços com o escuro, só na esperança de não me ver a mim, mas sim o essencial. Não ver. Não te ver. Só a tentar respirar, ganhar alento pelas ruínas de uma boca, lágrimas de cimento. Mas há horas, há horas para tudo. Há demoras, lixo no chão, uma guitarra deitada comigo, disseram-me que nomes são manias daquelas que fazem comichão. Já só havia as luzes lá em cima, azuis adormecidas. Calça-se os sapatos não é? Encontra-se sem primeiro procurar, e os sorrisos... esses foram meros flocos de neve, que duraram isso. Esse tempo de queda breve, sendo no final roubados pelo céu frio. Quando caminhas, caminhas para onde? Procura o homem do violino, o andar fantasma, as cores dormentes. Diz-me que a saudade é só do fado, que eu não tenho corredores para te guiar. Que não tenho todo o tempo do mundo, que nem tu estás neste mundo, que este mundo nem mundo mais é. Deixa-me deitada, deixa-me perder nesses rascunhos de vida, no meu esboço de vida, sem medida.
Vejo-te ainda muito bem daqui, pela estrada fora, contornaste-me tão bem, tenuemente bem. Levaste-te só a ti e as melhores lembranças de mim, espero.

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Mundo azul, mundo de borboleta

Não te liguei. Mesmo depois de ter dito milhões de vezes que hoje era o teu dia, que ia falar contigo durante horas e horas a fio... Mesmo depois de ter dito mais umas milhões de vezes que hoje ia ter contigo aí, ao teu mundo azul. Imagina uma caixinha com tudo o que vivemos lá dentro, imagina-te a escancarar essas vivências na direcção deste nosso céu azul-mar. Imagina-te a respirar, por fim, a respirar o que viveste, a sentirmos a vida como ela foi. A sentirmo-nos vivas! Ter a coragem digna de esvaziar essa caixinha, e não ter medo de imaginar o seu futuro preenchimento. Ser inteligente e criativa ao ponto de controlar esse futuro da maneira que mais nos faz feliz. Voar, verbo vivo em ti, asas leves filhas de árvore e sóis melódicos.



Borboleta da ponta do dia até à ponta da noite.



Com asa de borboleta nasceu a primeira palavra amarela. (mas) para dizer «amarela» convém ter a boca suja de terra. para assistir ao nascimento de uma palavra convém esperar dentro do chão. para esperar dentro de um chão convém já conhecer uma borboleta - para saber perguntar o caminho das suas asas.

ONDJAKI

domingo, dezembro 20, 2009

Memórias de alguém



Já vou. Sei lá onde estou, não sei pr'a onde vou, só sei que já vou. Já vou.
Sublinha-me as partes não ditas mais importantes. Desfaz-te em mim quando entras incontornável, com esse caminhar sujo de lama triste das poças que, sem querer, pisaste lá fora.
Dá-me janelas entreabertas de Lisboa.
E chegavas de correio na mão, com esse cheiro a chuva livre, e os teus passos eram como um maestro que esculpia harmonia por cada cantinho.
Muitas vezes, olhavas-me da cama preguiçosa, embrenhado num silêncio matinal, como se nunca me tivesses visto, como se fosse uma estrangeira na tua não-rotina, enquanto que eu, mergulhada na tua camisa amarrotada dizia bom dia à vida da varanda acolhedora do nosso quarto, com um café morno entre as mãos da noite anterior. Franzias o sobrolho, fazia-te confusão o meu desiquilíbrio ao caminhar. As minhas mãos pintadas. E acho que muitas vezes te questionavas o que seria que te devolvia no final de cada dia a mim. E acho que nunca encontraste resposta. Eras alto, silhueta cuidadosamente delineada, com um sorriso nascido do Sol, pele carioca, teus braços meu refúgio e a minha paz no limiar do teu olhar. Todas as manhãs eram novas, uma ponte atravessando o nada, todas as manhãs eram estrelas intemporais, eram um abrir de janelas para o conforto do teu ser. Todas as manhãs extinguia-me no teu peito, estrela cadente.

sábado, dezembro 19, 2009

Um índio três desejos palavras achocolatadas


-Isto não é um cachimbo?
-No, isto és un cachimbo, isto aqui.
-Ah, muito giro!
Era uma homem de média estatura, longos cabelos de carvão, com um rosto expressivo marcado, cheio de histórias, queimado pelo sol.
-Bem, então levamos um não é? Um cachimbo índio para o Vasco!
Eu andava ali, mergulhada em lenços coloridos, olhava o senhor índio e dava-me uma vontade de sorrir, sem saber muito bem porquê, mas aquele índio parecia que tinha tanto para contar, parecia ter visto mundos e mundos desconhecidos para mim.
-É só o cachimbo e o lenço sim, obrigada.
-Escolhe uma pulseira.
Esboçando um sorriso que enchia o próprio vazio do ar.
-Uma pulseira? Eu?
-Sim. Qual quieres?
-Bem.. Muito obrigada. Não sei a cor, de que cor?
Atrapalhada, intrigadíssima.
-Hmm.. Acho que verde. Sim verde! Dos teus olhos, e verde é esperança.
-Ok!
-Dás três nós, pedes três desejos e quando a pulseira se romper atiras ao mar.
-Obrigada, obrigada... Três desejos. Esperança.
Despedi-me e fui-me embora. Naqueles breves segundos com o senhor índio senti-me noutro lugar, na Amazónia. Fui-me embora com três desejos e uma pulseira no pulso. A melhor prenda de Natal que alguém me podia ter dado, de longe.

Pessoar



O meu amar-te é uma catedral de silêncios eleitos.

Fernando Pessoa

quarta-feira, dezembro 16, 2009

Auto-(sonhadora) retrato?

Uma palavra que me defina? Sonhadora.
Duas palavras? Altamente sonhadora.
Três? Aterrorizadamente altamente sonhadora!

Arquitectura não, design de comunicação nem pensar, professora de história de Arte ou de geometria? Por amor da santa. Escritora, pintora? Sou-o a full time.
Andava eu nisto já há uns bons dias, com um vazio no estômago pois faltava-me um sonho desenhado ao de leve, para me guiar. Recompor. Erguer-me de lençóis escuros tristes, amanhecer amanhecer re-sentida. E hoje, pensando em sonhos, vim vasculhar aqui bem dentro, aos arquivos da alma algo que me fizesse tremer de entusiasmo, uma corda pequenina a que me pudesse agarrar. Depois de muitos «não sei», «oh meu Deus!» e «vou para o desemprego!», depois de um café falsificado, depois do remoinho de saudade com «how i wish you were here» e depois de uma conversa aconchegadora que dava um grande poema, o Mar abraçado à menina Lua sentiu-se preenchido aos poucos e poucos, quarto crescente maré vazia. Foi ao som de musicais, já esvaziada, ao som de Eddie Vedder, ao som de risos e maluqueiras soltas que malucamente sorri também e soube. Não decidi, não carreguei a carvão escuro o futuro, não prometi nada a mim mesma. Acreditei, simplesmente agarrei-me a essa corda pequenina, a esse sonho. E permaneço a dançar, a desandar, a aLuaMar, a sonhar, a re-criar, a abraçar, a dissertar, a voar. Quem sou eu hoje? A miúda que anseia por comboios, ali a miúda do chão, a miúda dos recortes, a miúda das mãos pintadas, a miúda despenteada, a miúda que quer fazer Teatro, a miúda despistada, a miúda que corre para o autocarro, a miúda que planta geometria, a miúda atrasada, a miúda que rodopia, a miúda frágil, a miúda-sereia, a miúda sem horas, a miúda dos olhos brilhantes, a miúda do lenço desajeitado, a miúda naturalmente maluca, a miúda do caderninho mágico, a miúda que come gelado faça chuva ou sol, a miúda teimosa, a miúda que rabisca e perde tudo, a miúda musical, a miúda que há-de re-ser para todo o sempre miúda.

domingo, dezembro 13, 2009

Sei lá, dança-me.


Sou o que resta da mutidão quando o dia esmorece. Gostava de poder gritar, olha gostava de saber ser livro!
E escrever novos modos de me conjugar a mim mesma.
A miúda do chão, a que mora na calçada contadora de histórias, rainha de luzes e caminhares perdidos, vontade sôfrega de remediar. Chamam-lhe a salvação do próprio entardecer entristecido. Na chama do sopro da noite, é aí que ela reside, aninhada a um peito forte apenas por ela conhecido. Oh miúda do chão quem te manda ser pintora da multidão? Não vês que não te pertencem esses corpos que mal dançam, que tocam pautas falsas? Miúda do chão és tão teimosa. Não sabes das horas, mas sabes do futuro, perguntas pelo passado, queres um pouco de tudo.
Miúda livre, miúda do chão, o que te desenha?

Cabeça sem tempo


(Abrange-me o tempo sem sapatos
Vem sorrateiramente pisando os meus passos.)
E se eu me sentasse e tocasse
Deixando correr a música sem dor
Roubando bocas de espanto
,
E se eu por leves segundos
Pudesse jurar sentir a perfeição ali, quebrada?
Abrange-me como se nada fosse

Desde o meu pulso até à alma dos dias intemporais.

Descalça


As minhas voltas são o que são.
São um esburacar de horizontes
Mergulhar para trás levianamente.
Nunca foram raízes de um chão
E elas esculpem as minhas camadas
São elas que desenham as minhas estradas.
Não nos damos bem,
São complicadas estas relações
Quando já nada se tem
E sobram os raros sopros
De passadas sensações.
De cada vez que se esquece,
Após menos de 24 horas
Eu esqueço o sabor do tacto,
De como andar descalça
Me faz saborear a leveza.
Fugir para Lisboa parece-me um bom plano
Abraço num sorriso dentro de um olhar.
E porque não irmos por aí,
Contrariar as voltas
Que me fazem tropeçar...?
Já chega.
Quero amanhecer.

quinta-feira, dezembro 10, 2009

Cinco e um quarto


Resiliência. Era algo que todos deveríamos ter. Devia ser instintivo, como um reflexo repentino da alma. Nós seres humanos desistimos, é verdade. Mas não era lógico reerguermo-nos, folhas de Outono a cingirem o ar, tocando o chão ao de leve e de seguida, arrebitar de novo em direcção ao céu solarengo?
Falava-me disto, cantava-me ao ouvido. Por mim ficava ali o dia inteiro. Entre aquelas quatro paredes brancas que sabiam mais de mim do que eu própria.
Coordenação. Devia ser um hábito. Medir o tempo com uma régua, separá-lo em pedacinhos, tê-lo sossegadamente nas mãos. Eu devia ter escrito um texto argumentativo, para o ler aqui bem alto, sem que me pudesse perder nos meus inerentes dialectos, e pudesse dizer claramente, com palavras firmes e a negrito: p r e e n c h e - m e.
Preenchimento. Devia ser a tempo inteiro. Como uma música que cresce e se expande cá dentro, quente. Um sopro de uma outra boca, de dentro para fora, de ti para mim.
Saí, por fim.

quarta-feira, dezembro 09, 2009

Rua nº47 vira à esquerda e é sempre em frente


«Não é isto que quer?»


Já nem consigo sugerir, já nem me entrego à calmaria de pintar em poesia. Tudo isto é frenético, fanático, pindérico, sarcástico.
A sala era pequena, pouco familiar. Mas o resto era o mesmo, as cenas congeladas, os risos, o modo Pretérito Imperfeito de caminhar. Os edifícios direitos e lisos, as árvores do costume embebidas no céu azul turquesa lilás laranja do costume. Os boatos, os mexericos, as velhas da rua, o cão da claustrofóbica varanda que ladra à Lua, os cafés apinhados, as aconchegadoras viagens de camionete, os jantares fora da hora de jantar, o vaivém das pessoas, a usual contradança dos desejos, o zumbido dos sonhos a passarem-nos ao lado. O mesmo desigual.

Inquiriu-me assim, a mulher do cabelo recortado com salpicos do pôr-do-sol, cinco palavras mais um ponto de interrogação com toneladas de razão, inquiriu-me num tom de revolta, com um pico de tristeza também. A mulher falava de maratonas, metas, vitórias épicas, olhava-me, desenhava círculos confusos com a bordada saia rodada, retorquia, olhava-me de novo, discutia, perdia-se nas suas teorias, exigia-me a perfeição, desesperava e suspirava com o espírito apoiado na rude mão. Olhava os meus traços, olhava-me a mim.

Faltava muita coisa nessa sala, e eu sentia essa falta de dia para dia. E isso notava-se nas minhas aguarelas esquecidas, no meu F perdido, na escassez de folhas brancas, nos nunca decentes lápis de cor.
Essa falta notava-se em mim, faltava-me eu.

Numa última investida, inquiriu-me uma outra vez. Apesar do real vazio daquela sala, das janelas fechadas, estores recolhidos, caderninho mágico nunca mais visto, acusações merecidas, pensamentos soltos da semana passada que acabou com a rapariga simpática do toblerone a dizer-me «pessoa errada» e um fim-de-semana vagaroso, incluíndo claro o domingo mais a sua teimosa melancolia, apesar disto tudo, eu cantarolava uma canção dos Clã, ajeitava o meu lenço desajeitado, sorria, entregando-me ao carvão obediente. No segundo a seguir lembrei-me de olhar à volta. Numa câmara muito lenta, numa fotografia demasiado óbvia. Constatei ser uma serial killer de cadeiras, de perspectiva, resumindo: uma assassina de traços direitos e limpinhos.
E a pergunta da mulher atropelou-me, fazendo eco em todo o meu ser durante muito muito tempo, como um sino gigantesco daquelas igrejas colossais em França. Tropecei cai, deslizei até ao chão, e ali fiquei. A soluçar como se fosse uma miúda que nunca na vida tinha provado a brisa salgada do mar.

Foram um par de dias daqueles banais, de correrias. Hoje o céu era de algodão doce o que me acalmava por dentro. Pensei no teatro, nos desenhos, na geometria, na dança, na música, pensei em viagens, voluntariado, África, num Natal desejado, pensei num abraço, numa festinha ao meu cão, pensei em Itália, em exposições, em filmes, pensei num chocolate, no tempo, pensei na faculdade, num olá, pensei na coerência, pensei em Lisboa, pensei na saudade. Pensei em sonhos. E adormeci.

Verbos esgotados

Estranhamente, ainda não acordei a música. Talvez porque ali aquele objecto histérico e meio rectangular esteja aos altos berros. Calou-se, finalmente. E mais ou menos dentro de breves segundos acordo-a. Acordo? Tenho as mãos sarapintadas de tinta desde as oito, duas formigas passaram por mim, orgulhosas na sua pele, confiantes, um pouco inquietas, mas confiantes. Confiantes pois, houve quem traçasse o caminho por elas. A primeira ficou para trás com rectas e relatos de bombas e coordenadas. A segunda anda aqui, pelo teclado riscado, pelo ecrã acima ecrã abaixo. Acho que se não a acordar não noto o tempo passar. Sentei-me. Bastava estender a mão sabes, para entender o que te mata e para acreditares em milagres. É um chá de maçã e canela, se faz favor. Um milagre, um descontínuo milagre. E milagres, eles existem? A respiração ofegante embaciou o horizonte mais à frente. Coisa de uns pares de metros. Coisa pouca. Mas acabou tudo num teimoso nevoeiro de palavras, e eu até já criei laços com o nevoeiro, parece convidativo, um abraço imparcial, recto e directo, como se o nada fosse espesso, nada mais que um nevoeiro concreto. Deixei de ver a segunda formiga. Não tenciono acordar a música. Não gosto de horas, do a horas, nem da etiqueta, nem do politicamente correcto. Aptecia-me uma mensagem dentro de uma garrafa, com o mapa do milagre-tesouro. Tenho a bochecha esquerda rabiscada e sinceramente, uma boca com fome de novos verbos.

quarta-feira, dezembro 02, 2009

Aterragens


Não te sentes a abrandar?
O respirar para lá de ti,
Caixa de cartão
Palavras preguiçosas.
O chão fez de ti um reflexo
Mas não aquele que se vê, certo?
Vê-se a chuva no teu olhar e
Ponto.
Mas não te sentes a abrandar?
Câmara lenta de um filme sossegado
Contra-rebatimento de boca,
E, leve. Leve no verbo precisar.
Fala-me de equações
Esboços nulos
Rasgos risos gastos
Nossos.
E de perfeições
De puzzles
Sonhos somos fomos
Acasos,
E de canções.
Ainda não te sentes a abrandar?

terça-feira, dezembro 01, 2009

Carta ao Pai qualquer coisa (milésima vez)

Depois de ontem ter descoberto que aquela carta que recebi em pequena não era tua, mas sim aqui da Isabel Maria armada em Mãe Natal, decidi escrever esta. Pode ser que me oiças. Estás por aí? Também ontem, cheguei à brilhante conclusão que era óbvio que não descias pelo exaustor abaixo... mas era o que eu pensava, visto que cá em casa não há a famosa lareira. Prometo que vou tentar ser breve, que não me ponho aqui a refilar, nem com metáforas e outros monstros da língua.
Antes de mais nada, olá e como tens andado por aí? Eu trago-te boas notícias! Como te deves estar a aperceber, ontem foi um dia luminoso, decidi que esta é a minha vida e que a quero viver ao máximo, deu-me uma vontade louca de fazer bem as coisas sabes? A cada segundozinho sorrir e ser leve em cada gesto. Uma energia pela alma acima, a qual agora me agarro, visto que, se me permites dizer, estes últimos dias têm sido de loucos. Portanto aqui me tens, a Ana Reis em carne, osso, e alma (in)completa! As más notícias... Não me apetece fazer a ridícula árvore de Natal cá em casa. É mau não é? Nem pendurei o teu peluche anafado na porta... O que é que tu queres? Não sinto isto do Natal, o consumismo exagerado, eu sei eu sei que prometi que não me ia queixar mas é inevitável! Responde-me a esta carta e explica-me de novo o Natal. Sim? Eu até fui ver aqui ao dicionário... Natal, adj. relativo a nascimento. S.m. Dia em que se celebra o nascimento de Jesus Cristo. Bolas, é isto?! Como não podia deixar de ser tenho uma "listinha" para ti, ou para alguma alma santa com super poderes... Aqui vai: as pessoas que amo unidas com um laçarote, e eu no meio delas. Simples não é? Também achei
.

O músico


«O silêncio deixa-me ileso, e que importância tem? Se assim tu vês em mim alguém melhor que alguém. Sei que minto pois o que sinto não é diferente de ti. Não cedo. Este segredo é frágil e é meu. Eu não sei tanto sobre tanta coisa que às vezes tenho medo de dizer aquelas coisas que fazem chorar.
Quem te disse coisas tristes não era igual a mim. Sim, eu sei que choro, mas eu posso querer diferente para ti. Eu não sei tanto sobre tanta coisa que às vezes tenho medo de dizer aquelas coisas que fazem chorar.
E não me perguntes nada.
Eu não sei dizer.»
E o músico ensinou-me a ouvir a música mais bonita, e também a mais difícil. Aquela que não se ouve.

domingo, novembro 29, 2009

Encontrei-te nos recantos de mim

Vim agora eu aqui, aos recantos do meu quarto, à procura de um estojo... Fui ao armário branco, aquele ao pé da janela, pus-me de cócoras e abri as portinhas de baixo: um verdadeiro caos, como não seria de esperar outra coisa. Livros, livros e mais livros. E mais livros e livros. Bolas! Em cima estavam, ainda meios a cair, os livros do 10ºano, todos rabiscados, com um travo amargo a saudade. Lá no meio disto tudo, escondidinha, repesquei uma mica cheia de folhas. Não eram umas folhas quaisquer, uns simples apontamentos de alguma aula de história mais aborrecida. Eram folhas nossas. As primeiras poesias ingénuas, ansiosas por descobrir o futuro que aí vinha! Falávamos de revolta, crítica, escrevíamos uma sociedade que desejávamos mudar, desmascarar, escrevíamos as pessoas. E uma magia que começava a espreitar de dentro de nós...
Chamámos-lhe, Carrossel.

27-10-2008/17-11-2008

A vida é como uma peça de teatro!
Em que o palco é o mundo
Que da vida é o retrato.
Este mundo é o cenário da peça,
E a vida faz o estrelato
Sendo o guião dessa!

E os actores? Que somos nós,
Utilizando máscaras, fantasias
Como escudos e muros
Para esconder a verdadeira voz,
A voz dos sentimentos
A nossa identidade...
Larguem as máscaras de uma vez por todas!
Só assim vale a pena viver.

Então e as máscaras
Que nos confundem as acções?
Já não sabemos quem somos.
Se somos um conjunto de encenações
Ou a nossa essência?
Se temos duas faces:
Um véu que nos silencia
Ou apenas uma atitude de contrastes?
Como largamos no meio desta fantasia
os nossos trajes,
Se não sabemos,
Nos momentos de alegria,
Quem somos na realidade?

Não sei...
Não sei da realidade.
Muito menos da verdade!
Apetece-me fechar os olhos
Esquecer e começar uma outra vez o carrossel da vida...
Talvez seja preciso rasgar o nosso mundo
Para encontrar a verdade. Talvez?
Não... Talvez tenha saudades de amar.
Se calhar, estamos fartas de ser invisíveis.

Talvez a imagem que criámos
Seja fruto da pergunta: "Quem sou eu?".
O melhor é fechar os olhos
A tudo o que ergueu
A nós e ao que amamos,
E agir como quem nasceu
E está ainda a libertar os ramos,
Vamos agir como crianças!
Libertarmo-nos do que criámos
Do medo de ser ignoradas,esquecidas,
Que está na base do que perguntamos:
"Quem somos além destas vidas?".
Temos de ter consciência
Que podemos sê-lo para os outros,
Mas nunca seremos mais uma para a nossa essência...
E perguntar "Quem sou eu?"
Com um sentimento de descoberta
E olhar de inocência!...
Vamos fechar os olhos ao mundo e à vida,
E recomeçar.
Vamos olhar a vida como a primeira vez,
Como uma criança que quer brincar!

Belos dias na descontra o bilhete é só de ida, só de ida, ida...
Não há regresso no carrossel!

O inventor do mar

«Passamos por eles como se não existissem
Indiferentes, frios como rochas de gelo.
Caminhamos para o dia a dia
Sem olhar para o lado
Indiferentes àqueles corpos deitados no chão,
Esses corpos fazem parte
Desta sociedade maravilhosa
Onde habitam esses seres
Que se chamam humanos,
Esta raça preocupada em manter as aparências
Vai sobrevivendo
Consumindo todas aquelas lojas
Onde se vende objectos sem interesse nenhum.
Aqueles corpos continuam no chão
Parados no tempo,
Não consomem
Não fazem parte deste enredo,
Simplesmente parados no tempo
Não têm por onde ir
Os sonhos são miragens
Como água no deserto.
Despejam excrementos do seu corpo
Chocando os humanos
Pelo cheiro intenso a MERDA
Indiferentes a tudo
Incomodados pelo mau cheiro,
Lá vão caminhando pelas ruas
Tapando o nariz
Vivendo a sua vidinha
Felizes, aos saltos
Nas calçadas das ruas
Que são as camas de alguns
Indiferentes a tudo
Cegos mudos e surdos.
Como é que uma sociedade
Que se diz perfeita no caminho do progresso
Admite seres semelhantes,
Iguais a nós, de carne e osso
Embrulhados em caixas de cartão
(Não são prendas de Natal???)
São seres humanos iguais a nós
Indiferentes a tudo,
Continuamos a desfilar
Numa passerele
Falando das dificuldades
Da treta de vida que arranjámos...
Indiferentes a tudo.»


Aqui tudo é paz e mar e lua!



Lua menina
Perfil pacato
Guardadora de sonhos
Dona de levezas
E de destino abstracto.
Oh e aquele sorriso!
De mil e cinco luas cheias
Que me aquecem
Me desenham
E me abraçam
Em silêncios,
Alma de colcheia
Pauta de pausas
E tantos outros caminhos
Por aluadesvendar!

A moda do que se deita fora

Uma mão no bolso
A outra numa maçã,
Uns ténis velhos em desconto
Um casaco desajeitado
Mal abotoado,
E assim lá ia pela manhã,
Lábios desvairados
Mala atravessada
Àquele corpo ilimitado
Fazendo de reboque
Às obrigações.
Pele caseira
Riscada
Um pouco de gozo,
Olhar de saga.
E um modo de caminhar
Que não se compreendia
Nem podia obedecer
A nenhum tipo de moda.

sábado, novembro 28, 2009

1º piso

No auge das coisas saberás saborear.
Tic tac tic tac...
Ando eu e a chuva nisto, para variar.
Subo ou desço o lanço de escadas?
O candeeiro está acesso...
Aquele com alma de África.
Lá para cima cheira a incenso,
Lavanda ou canela?
Tanto faz,
Acho que hoje a sobremesa é ananás.
E toda esta coisa colossal tem 3 andares,
O mar é pescado de dentro para fora
O casaco, pendurado na cadeira dianteira.
Sim, mesmo junto à fogueira
Com um chá que me aquece o esqueleto.
No 1º piso há bocejos doirados do Sol,
Nos outros 2 andares, o costume é ter-se medo.

3,4


Sonha, que o sonho é como um balão a que te podes agarrar.
O vento sacudiu-te, olhar desgrenhado
E as chaves de um portão no bolso de trás.
Amplitudes ângulos e finitudes
Para lá de 27 mesas vazias
Mais, uma janela desvairada.
O que foste antes do vento te sacudir?
Vêm comboios de Norte
E frases que não têm lugar na gramática,
Caminhos de ferro, como diria o outro,
Inutilizáveis.
Se esses passos são o que são
Se é essa a marca que deixo no chão,
Apaga o candeeiro que é quase Janeiro
E faz vento, lá fora.

Capa[(cidades)]


...A pacatez engole-se devagarinho...

quarta-feira, novembro 18, 2009

O meu cão é cão como nós



Estás agora atracado aqui em baixo, nos meus pés. Pareces tranquilo, parece que agora sim, agora sentes-te em casa aconchegado. Chego a casa a correr, corro dentro de casa, digo-te olá à pressa e corro de novo para a rua. Olhas-me lá do fundo do corredor, com uns olhos tristes e saudosos. Nem me sentes não é? No meio desta correria... Há dias que entro pela porta e trago comigo o silêncio, pressentes logo. Afundo-me no sofá, enroscas-te a mim, aqueces-me. Muitas vezes desfaço-me abraçada a ti, torno-me átomo e tu silencias comigo, amparas as minhas dores, os meus medos, as minhas quedas. Sabes das horas, da rotina, dos pormenores mais pequeninos da minha alma, sabes dos gestos, das expressões, das pausas, do que só as paredes ouvem... Guardo em ti tudo o que sou e não sou. E sabes de cor e salteado o meu não-ser, o meu re-ser, melhor que ninguém. Recebes-me a todo o instante com um simpático abanar de cauda, piruetas em meu redor, abraças-me. A casa sem ti não é casa. É um chão vazio. Acordas-me com um levantar de orelhas amigável. E os teus olhos de mel dizem sempre tudo... Tal e qual como os meus. Tal e qual como nós.

segunda-feira, novembro 16, 2009

Lua minha, teu Mar

Chovia a potes. À janela um último cigarro solitário. Somente as palavras desejaram caminhar, sílaba ante sílaba. Mas antes, engolir umas garfadas de massa da noite anterior, mastigar todas as crónicas não lidas da semana passada, ligar a televisão só para quebrar o silêncio que esculpia cada canto da casa vazia, passar a mão pelo carvão triste, encher o peito com mais uma lufada de ar, abraçar as tuas palavras adocicadas.
E agora sim, partir para a tal chuva da correria, que nos dissolve até à extrema das extremas pontinhas do verbo «sentir», para depois a única coisa que realmente podemos sentir é sentirmo-nos despenteados e «não-sentidos». Mas sobretudo despenteados e sentir também, que a nossa vida está completamente despentada, desgrenhada.
Saber aprender a conhecer os gestos que definem alguém é espantoso. É como saborear um chocolate muito devagarinho, sem pressa alguma ou como abrir um livro e deixar que as letras, os sons e os cheiros de cada página nos acariciem a alma, nas suas mais simples e genuínas formas de re-ser. Não são gestos premeditados nem algo que se pareça. Um arregaçar de mangas, um som esquesito ao falar, um passar vagaroso pelos cabelos, um encolher de ombros conhecido, um pôr de mãos nos bolsos, um olhar constante ao céu. A maneira diferente como toda a gente está, ama e é.

sábado, novembro 14, 2009

Eu (cópula) Tu


Penso que sim, digo que não
Mas o que nos faltava mesmo
Era uma copulação
Assim,
Algures entre
Ti
( )
mim.

Falas de tecto, falo de chão
Mas a gramática, essa,
Foi-se de vez em vão.
A tua locução é a de silêncios
O meu pleonasmo é o de loucura,
Fãs do acaso ou simples vizinhos da mesma rua?
Eu cá sou do tipo
Que primeiro encontra e depois procura.

Mas que se lixe! Não achas?
As aparências os limites
As dependências os chiliques,
De quem despeja e despeja
De quem se prende e mente
(Há quem falsifique o que deveras sente),
E não são só os poetas!
Que se lixem as fronteiras
Que já só geram é guerras!...

O instrumento que não se toca
É aquele mais bonito de se ouvir.
Ouviste?


sexta-feira, novembro 13, 2009

Bem dita sexta


Toda esta concepção de linhas
Me leva a crer
Em danças e falinhas mansas
Em tudo o que sou e podia ser
Na paz e nas heranças
De uma Humanidade que ainda não aprendeu a ver
Que por consequência não sabe como olhar
E assim logicamente,
Não faz a mínima ideia do que possa ser comunicar!
E por conseguinte partilhar,
E podíamos ficar aqui o resto da noite
Mas esta coreografia já cansa.
Oh! Toda esta vontade de desandar
Sob linhas paralelas
E janelas tagarelas
Desatinar com o verbo
Com o rodapé
Mais a vida sem tripé
E o chão sem mão!
Todo este embaraço de cartolinas
Cuscas vizinhas
E um pedaço de bem estar
Com um chá ou um aLuaMar...
Toda esta concepção de linhas
Me leva a (des)dançar.


As melhores tias do mundo!

Eu não te sei dizer como vais ser
Do que vais gostar,
Se vais preferir voar ou nadar
Se vais venerar chocolates e gelados
Ou, simplesmente
Um papagaio de papel no ar...

Gostava de te poder antecipar
Alguma espécie de cometas
Que te possam vir a magoar
Neste universo de estrelas
Que é difícil descodificar...

Eu não sei o que aí vem.
Aliás, eu e a tua tia Borboleta nunca o sabemos.
E sabes porquê? É isto que dá gozo
O desconhecido a romper-te o silêncio da alma
As borboletas pelo estômago acima
Ao sentires-te LIVRE!!!

E aqui tens o segredo
Para todo este firmamento de voos
E aqui tens o enredo
Uma Borboleta saltitante
Sorridente esvoaçante,
Uma Sereia colorida
Garrida de danças e tranças,
Aqui tens a partida.
E mais não sei...
Sei! Que tens a melhor tia do mundo!
Espera só até a conheceres!


quinta-feira, novembro 12, 2009

A torre da sabedoria


Inacabados?

A guitarra que me prende a alma

É uma outra, uma de papéis amachucados

Uma que não foi salva, por gestos falantes

Perdera o nome, pois a mudança era teimosa.


As cordas que me desenham o corpo

Desafinadas, quebraram-se de vez

Na linha do meu olhar, que já só viu

Umas costas ao longe, mas que

Jurou ver música nesses traços.


A mão que ainda ali se mantinha

Sob as minhas palavras (não ditas)

Permanecia autêntica,

No modo como absorvia cada letra

Como se fosse sede, sede por saber saborear

O que era difícil de matar.


O timbre que me canta não foi,

Não esteve, não soube estar.

Mas sempre cantou, acreditou

Noutros traços que não souberam sonhar.


E aí tens, inacabados traços

De uns lábios mudos pela noite

De um corpo mal desenhado

De uns braços, teus.

O absorver das notas intocáveis...

terça-feira, novembro 10, 2009

Umas castanhas, por favor.



"Não és tu que pagas os meus vícios. Nem a minha mãe, nem o meu pai."

Nem tu os devias pagar.

O cheiro a castanhas entornou-se sobre a rua e sobre os casacos das pessoas que por ali fingiam caminhar.
Tal e qual
Juro-te que era um carrossel
As mãos já não tinham mais por onde agarrar
O céu aguarela.
E eu bem digo
Fica.
Mas as somas já eram menos que as subtracções
E quando assim somos
Dá-se tudo por nada
Mete-se as mãos pela goela.
E eu bem te disse
Distraí-te.
E a raiz quadrada da felicidade
Ficou por se saber
Como dois corpos se unem por linhas invisíveis,
Foi-se o vento ficou o chão
O alento.
O comboio não esperou.
É que não os devias pagar
Só porque a estação mudou só porque...sei lá!!

A do desenho tem 7 notas musicais
Certinhas, fora da pauta.
As castanhas embrulhadas pelo jornal
Pousadas no meu colo
E eu, pousada no teu ombro
Sendo Ana e mais nada
Mas onde é que tu já vais...
E os olhos verdes lá se perderam e confundiram
No meio daquela multidão.



domingo, novembro 08, 2009

A sociedade de lá


Lá porque eles falam de experiência
Dessa dependência de querer ser alguém
Lá porque eles escolhem
O que mais convém
(E é bem melhor assim, meu bem)
Haverá por aí mais alguém?
Que me ouça cantar prelúdios com medo
De um sentimento enredo ou segredo
Ai de ti, ai de mim, ai de nós,
Ai de alguém que caia nessa foz
Que roubou e chorou e depois se sentou um pouco mais ao lado
Foi assim: um perder de significado
Como quem tira e não volta a pôr,
Mas o gatuno não fui eu
O oportuno foi o Diabo, esse estupor,
Não me olhes de esguelha
Só porque eu e o tempo nunca fomos um grande corredor
Só porque as palavras assim soam melhor
E tu ficas de telha
E dizes que sou apenas mais um ramo nesta floresta
Mas bem sabes que as paredes não têm que ser brancas
Se eu canto e arranco
Tu travas e des-cantas.
Lá porque eles falam e uns se calam...

sábado, novembro 07, 2009

Desligamentos

Desliga e apaga
Desliga e apaga
Desliga e acende
Desliga e estraga
Desliga e apaga.

Desliza?
Não, des-li-ga.

Desliga e apaga
Desliga e pára
Desliga ou paga
Desliga e apaga
Desliga e apaga.

Desliga
Sintetiza
Não dês energia
A essa correria.

Abranda e anda
Abranda e anda
Abranda e canta
Abranda e anda.

Agora a sério:

Desliga não apagues
Desliga e acende depois
Desliga não estragues dois
Desliza e desliga
Desliga não pagues
Desliza e sintetiza
Desliga e não corras
Desliga e anda e canta e abranda.


sexta-feira, novembro 06, 2009

Borboletear

Fecha a porta, arruma a cadeira. Dá-me um beijo de boa noite, já é tarde não vês?
Desculpa, a camisola era nova e a culpa foi minha, é minha. Acho que tinta da china não sai, desculpa... Já sei. As coisas custam, e não são baratas, já o sei. Mas ele dá valor e esta parte não queres tu saber. E depois? É só mais uma camisola de uma cor horrível com uma marca carérrima estampada. Não tens de pensar, e se se sujou a mesa também, não faz mal eu limpo e sai. Cheira a plasticina não é? Mas é chá meu pirralho. Já viste para onde levas a conversa? Não percebo, berras com o raio da camisola e acabas nas tuas típicas 'orações'. É preciso ter uma força, digo-te já. A ti e a ela. Mas tenho-a, e é por vocês todos. Se soubesses o que me preocupas ó stressado da tanga, não fazias metade do que fazes. Até amanhã, dorme bem e..adoro-te. Da onde até a onde?? Isso é muito! Assim está bem! Vá,agora dorme. Se fosse por mim não te dizia, mas tenho de dizer por isso.. Pois eu não sei bem, estava numa pilha de nervos. Ok no exame vai ser pior, tens razão. Tenho de separar as coisas, distingui-las. Mas pronto foi isso, agora estou consciente e sei e vou conseguir! Tenho de conseguir!...Eu gostava, eu gosto. Dava-me gozo sabes? E quase sempre consegui. Mas estou a ir à luta, vou trabalhar. Anda, já venho. Olha e não te preocupes sim? Não vale a pena..ainda sou eu, ainda estou aqui. Olha! Ainda tenho os pés no chão! Engraçado. Logo hoje que eu estava disposta a começar! Isso é o começo?? Podia estar triste, aliás eu devia estar triste! Mas não estou, se calhar sim, mas estou aqui a sorrir e tagarela como eu sou! Não depende de mim, já sei. Nunca o tinha admitido? Bem mas agora está admitido. E as causas estão bem claras! Estou de parabéns, bravo. T.P.C.: falta-me reagir e levantar, apontado. Deve ser um trabalho demorado. Quinta? Ok e obrigada pelas teorias! Só te falta aí mais comprimento em baixo, de resto está bem. Tens de te soltar! Não parece a mesma não. E este é mais giro, vais fazer? É o melhor mesmo. Ah e põe a folha ao alto que isso é uma questão de espaço estás a ver? Mal virares a folha mudas logo de perspectiva e soltas o traço! Vais ver. Oh por amor de Deus, a sério? "Bem construído", quem diria. Sim está, sempre dominaste isso muito bem desde o ano passado portanto... Nem por isso, mas melhores dias virão certo? Têm que vir. Dá-me um abraço. Oh porque tem de ser dos dois lados, eu lembro-me sempre tu é que não te lembras desta parte. Espera. Achas que um dia vais parar de fugir virares costas aos que se preocupam contigo e dizeres o que sentes?? Tu não estás chateado comigo, estás chateado porque a vida não correu, não corre nem vai correr da maneira que te faz mais feliz, da maneira mais fácil! E eu continuo aqui, aqui! Não sei bem, talvez. E tu?? Mas estás a ir bem nas notas não é? Ah.. Eu também sabes, sinto isso. Achas que vá lá?? Fico preocupada..vais para baixo? Pois. Tens medo da reacção não é? Também eu, de vez em quando. Fico tão contente por teres aparecido, mesmo muito. Eu preciso, de ideais e objectivos. Preciso mais que palavras fortes que às vezes são tão feias naqueles contextos! Caramba, para quê abrir os livros, o que é isto de probabilidades e estrogénio?? Open mind? Nada disso, não.. já não falam, as pessoas fecham-se e pronto. As boas conversas lá ficam não é? Fotografia gosto mesmo é a preto e branco. Manias! Mas onde o curso?? Por mim bora! Já vi onde estamos. Boa vida era nas Caraíbas!! Há momentos em que me custa respirar, e esta semana foi cheia desses momentos. E quando lá paro no meio da rua penso "Quem sou eu no meio disto tudo?". E Lisboa!! Que saudade! Por mim ia agora. Dia oito é quando?? Pois não dá mesmo...mas exposições é o que não falta! Museu do Oriente é que era. Vem aí os feriados. Ai que energia! Vais ficar em casa é? Bah pra ti. Pára lá o tempo. Nem eu. Era largar tudo, sim! Mochilinha às costas. Dorme-se no comboio claro! Se for Itália vou. Tens sempre bolachas fantásticas, com sabor a pipocas, tão boas! Não quero. Beijinho beijinho! Vamos fazer um desenho. Pintura Barroca, um dia também vais ter de fazer não te preocupes. Eu não sei se elas já têm ideias, mas temos de começar a materializar! Sim viste não viste? Pronto é isso, pesquisa em casa para não ires de mãos a abanar na segunda. Eu sei que não parece mas sou boa aluna sabe? Sim foi isso. Apesar de não parecer sou. Bom fim-de-semana. É para ti, lê. É uma fase, estúpida sim, mas uma fase, não podes alterar nada, já disseste o que pensavas. O máximo que podes fazer é não agires assim. Estás triste não estás? Não fiques.. Sexta vamos passear sim? Lisboa quem sabe?? Fala, mas é cedo também. Sorri! Cheira a Natal, eu acho. O frio silencioso das ruas. E tu? Também te desviaste do rumo? Eu sim, é difícil e dói. A Amazónia ainda espera por nós (espero eu) portanto.. Luta porque a luta tem de ser nossa não é?
A vida é nossa.


...Saio para a noite sem saber pisar o chão...