quarta-feira, dezembro 09, 2009

Verbos esgotados

Estranhamente, ainda não acordei a música. Talvez porque ali aquele objecto histérico e meio rectangular esteja aos altos berros. Calou-se, finalmente. E mais ou menos dentro de breves segundos acordo-a. Acordo? Tenho as mãos sarapintadas de tinta desde as oito, duas formigas passaram por mim, orgulhosas na sua pele, confiantes, um pouco inquietas, mas confiantes. Confiantes pois, houve quem traçasse o caminho por elas. A primeira ficou para trás com rectas e relatos de bombas e coordenadas. A segunda anda aqui, pelo teclado riscado, pelo ecrã acima ecrã abaixo. Acho que se não a acordar não noto o tempo passar. Sentei-me. Bastava estender a mão sabes, para entender o que te mata e para acreditares em milagres. É um chá de maçã e canela, se faz favor. Um milagre, um descontínuo milagre. E milagres, eles existem? A respiração ofegante embaciou o horizonte mais à frente. Coisa de uns pares de metros. Coisa pouca. Mas acabou tudo num teimoso nevoeiro de palavras, e eu até já criei laços com o nevoeiro, parece convidativo, um abraço imparcial, recto e directo, como se o nada fosse espesso, nada mais que um nevoeiro concreto. Deixei de ver a segunda formiga. Não tenciono acordar a música. Não gosto de horas, do a horas, nem da etiqueta, nem do politicamente correcto. Aptecia-me uma mensagem dentro de uma garrafa, com o mapa do milagre-tesouro. Tenho a bochecha esquerda rabiscada e sinceramente, uma boca com fome de novos verbos.

Sem comentários:

Enviar um comentário