sábado, maio 28, 2011

Recíproco


escorrega dos ombros o bafo prosaico,
umbral finito, da magrugada
chã alvéolo,
díspar, distinto.

segunda-feira, maio 23, 2011

O indisputável

Algures, a sandes que comes dá a sensação de ser a única matéria que te preenche, é o exterior a encher-te sim, mas essa coisa aleatória a nós é nada mais que um pão e uma fatia de fiambre, transparente. Porque é o teu santuário, eu sei. Ali a respiração ocupa o espaço que deve ocupar no peito. E ao menos ali, tem-se a sensação de que o coração se mantém hirto e firme, limpo e coerente, fingindo que palavras são emoções, destrezas públicas do que conhecemos, eu sei. Mas nem tudo é tão seguro. Se te dissessem que as tuas mãos são janelas de luz, e o teu tacto é a mera criação, ínfima criação, do bem ao mal, do tudo ao nada... Mas tu entraste, e de ti soltou-se, Sou eu. Ora o teu santuário, eu sei, eu vi. As quadrículas que desenhas no chão quando caminhas são distâncias, e os caminhos que a tua sombra aponta são riscos de uma criança de sete anos. Mantermo-nos assim, altivos porque sabemos muito, gratos por não sabermos tudo, receosos porque nada sabemos. De facto. Respiraste, e disseste, Tempo. Viste o espaço, e as pessoas, viste o vazio que se ocupou, e não foi com a sandes, não foi matéria exterior a nós, não foi um vocábulo ao acaso que foi contra ti sem querer e que se estilhaçou. Foi de ti, e tu sabes; e tu sentiste.

segunda-feira, maio 09, 2011

Caramba, o espaço. Falam-me do que me acata a memória, e eu falo-lhes de espaço, linhas convexas, e desproporções, alíneas erradas. Quando decidi lá voltar estava tudo na mesma; o comboio de pedra, à esquerda o pátio, depois a nespreira, mas antes as escadas da guitarra e das canções, depois disso a entrada, os cabides, os bibes, a seguir o refeitório, eu a implicar com o leite, alguém à minha espera. Quando decidi lá voltar estava tudo na mesma, menos eu.