segunda-feira, junho 21, 2010

Varinha e outras coisas de condão

Olhei, mas o despacho do conclave de estrelas só me tinha trazido azul.
Um azul-boião, azul de garrafa, azul de margaridas brancas ao soltar o cabelo; na incongruência do vento parado.

domingo, junho 20, 2010

Caixinha de costura

Na caixa dos enfeites de Natal, nas cartas salgadas, nos miminhos feitos de papel, nos papagaios entrelaçados, nas toalhas de praia ainda tímidas, nos cd's, no pó dos cd's, nos elefantes de madeira, no gira-discos, na lareira, nos pacotinhos de chá do armário velho, no chapéu de sol, nos poemas guardados dentro da cabeça e depois rescritos dentro da alma, estamos nós.

sexta-feira, junho 18, 2010

Mar à vista

-Então adeus Ana.

Já? Quase um ano. Um ano de conversas, velas desfraldadas como dobras de um mapa, quando o vento soprava, de um barco pirata sem destino. Eram os meus ténis que me levavam pelas ruas entardecidas de memórias, o céu algodão doce por cima de mim, as paredes brancas a sussurrarem-me histórias enjaneladas, subir as escadas, depois voltar a desce-las de forma desigual. Tecer passos no corrimão, o ranger da madeira, acender a luz dia sim dia não. Saber que não sei o caminho, mas saber que o sei, saber que a camionete pára às horas certas na rua grande. Atravesso a estrada, paro. Atravesso o outro lado da estrada não paro e corro. O meu lenço corre atrás de mim, de longe devo parecer um melro negro à caça. A rua pequenina, os prédios de cores sonolentas, passo pelo café dos senhores bêbados, não me ligam, já me conhecem, atravesso a última estrada e desta vez nem olho para o lado, chego ao portão e sei qual é o botão, mas se me perguntarem não sei qual é o andar. Subir as escadas uma vez mais, depois voltar a desce-las de forma desigual.
-Como correu esta semana?
A voz doce, como compota de morango, o olhar também, mas a descair mais para duas grandes amoras selvagens, e o sorriso como uma onda do mar simpática que nos refresca sem aviso prévio.
-Bem, acho que bem.
Nunca soube se quando as paredes, não as brancas cá de dentro a que tanto me afeiçoei, mas as lá de fora quentes e pegajosas, nunca soube se estas paredes me comprimissem, se eu podia ser como a chuva e condensar-me, vagarosamente, gotículas azuis e ser assim, gotícula de cristal, até ser ar, até ser algodão cor-de-melancia numa nuvem a pairar lá no mar de vento. Nunca encontrei o limite de me poder desfazer, o orgulho não permite, ou a vergonha, ou o receio.
-É a última sessão.
-Eu sei.
Mas não sabia.
Encolhi-me. Agora do outro lado da mesa havia uma expressão estranha. Olhou para mim muito séria, e desfez-se com uma agilidade de golfinho que eu nunca tinha visto antes, numa gargalhada sincera e sumarenta. Olhou-me outra vez.
-Sabes qual foi a primeira frase que me veio à cabeça?
Ri-me.
-Não, qual?
-Eu criei um monstro!
Agora riamo-nos as duas, descontroladas, as nossas gargalhadas lembravam um bando de pássaros ao longe, o bater das suas asas ao mesmo tempo, livres e despreocupadas.
-Um monstro?
-Sim!
-Prometo que desta vez, desta vez não estou a tapar o Sol - a minha alma a sorrir por todos os poros - esta é a Ana do vento, e eu sou feliz, e eu quero lutar, e dar importância ao que importa mesmo, quero fazer teatro no Verão, e andar aos saltos pelo meio da rua, leve. Se sou um monstro não me importo. Ao menos sou um monstrinho feliz, com garra.
Os olhos, duas amoras escuras, agora pareciam brilhar. Arrepiei-me, encolhi os ombros, esbocei um sorriso para afastar a súbita impressão que tinha no olhar, e aninhei as mãos no meio das minhas pernas, que é o que eu faço sempre quando me emociono um bocadinho mais. Mas afinal era o fim de uma longa viagem. A janela estava aberta e daí corria uma brisa que cheirava a pôr-de-sóis, a baloiços, e a carrosséis cheios de amor, tudo por descobrir, tudo por inventar. Afinal, era só mais o começo de uma outra longa viagem.
-Então adeus Ana.
-Gosto mais de dizer até já!

quinta-feira, junho 17, 2010

Põe a mão no coração!

Tesouros escondidos no clandestino da alma...
«A bola 'tá do teu lado, meu irmão
O que é que tu vais fazer? Põe a mão no coração
Pergunta a ti mesmo qual é todo o sentido
Daquilo que tu ouves, segreda-me ao ouvido
Você decide – o voto é secreto e directo
Mostra-me amor e afecto, bom-senso, intelecto
Sê correcto – contigo e com quem mais tu puderes
Para mim está tudo bem mano, se tu estiveres
A bola 'tá do teu lado, meu irmão
O que é que tu vais fazer? Põe a mão no coração
Pergunta a ti mesmo qual é todo o sentido
Daquilo que tu fazes, segreda-me ao ouvido
Você decide – o voto é secreto e directo
Mostra-me amor e paixão, um pouco de raça e tesão
Usa a razão – contigo e com quem mais tu puderes
Para mim está tudo bem mano, se tu estiveres
Faz o que quiseres, p’ra mim está tudo bem
Alright, alright...
Faz o que quiseres, p’ra mim está tudo bem
ok, ok...»

...encontrados de novo num olhar de telepatia (:

quarta-feira, junho 09, 2010

Verãoar


















































































Pirralho de mim. Verão meu. Cadê de ti?

terça-feira, junho 08, 2010

Postal-mágico-voador


Na rua azul não há horas. Na rua azul o céu é laranja e as árvores e as casas são da cor do mar. Na rua azul há maçãs mágicas e os pássaros trazem sorrisos de longe. Na rua azul pode-se gritar, correr e brincar, porque na rua azul tudo é divertido. A rua azul é feita de tintas e rabiscos. Na rua azul há carrosséis e há sempre lugar para toda a gente. Na rua azul não há pessoas tristes, só há pessoas felizes, felizes. Na rua azul há sonhos a pairar no ar. Na rua azul há conversas que ficam connosco para sempre.
Na rua azul as pessoas dão a mão e não querem saber de coisas más. A alma da rua azul é forrada por sorrisos, que voam até ao céu e nos fazem voar com eles. Na rua azul há memórias de alguém. A rua azul é cheia de ti. Volta depressa!




Ainda não fiz as pazes com o meu telemóvel, e tu sabes que nunca hei-de fazer, então faço postais, toma, é para ti (:


segunda-feira, junho 07, 2010

Alambiques d'alma


Correu pela rua fina, cavalgando as janelas entreabertas, o cheiro da comida caseira acabada de fazer, a paz, o Sol que tudo doirava e as aguarelas que nele coexistiam com a presa de uma borboleta, esperava mas nada se via, até que se viu. Vê. Uma chuva ao contrário, do chão p'ro céu, gaivotas a dançar. São. Um sopro de mãos quentes a apodrecer debaixo da terra, a pairar numa gravidade paralela aos nossos pés. De mim. Estórias desfolhadas, glossários sem fim, amor é tela nua. Não.


domingo, junho 06, 2010

Maria Papoila


Deixa as ondas do mar ficarem no meu cabelo. Âmbar da minha paz, verde-azul grená cor-de-trança bronze
ada.
Deixa a ar

eia descansar no chão, nos bancos do carr
o. Deixa as ondas do mar brincarem no meu cabelo. Deixa a praia dentro de mim, quando apagar

es o Sol.

sexta-feira, junho 04, 2010

Recortes de trigo

Sem cara. Uns de olhos fechados, outros sem olhos sequer, mas todos hirtos como um poste de electricidade fundido. O maior tem um olhar triste e mortificado. Para mim o mais bonito é o que parece que está a dormir, parece calmo. Mas todos choram uma prece que não se ouve, numa oração perpétua à espera de um milagre. Os Santo Antónios que trouxemos lá de casa. Foram as únicas memórias que ela desembrulhou dos caixotes. Esses continuam amontoados, atrás da porta, a zumbir segredos de cada vez que entro em casa. Pelo tilintar das latas soube que eras tu. Cheiravas a tinta, a gasolina e a metal. Vinhas carregado de sacos e de cores e aquele sorriso aberto ao mundo. Os mesmos óculos de sempre contra a mesma miopia de sempre, já catéticos,
-Já pensaste em comprar uns óculos a sério?
-P'ra quê? - e enfias os óculos até aos confins do teu bolso - eu vejo tudo o que preciso.

quinta-feira, junho 03, 2010

Minha túlipa azul


Maçã e canela. Bon Iver. Hei-de te encontrar sempre em sonhos.
Foi o combinado.