sexta-feira, junho 04, 2010

Recortes de trigo

Sem cara. Uns de olhos fechados, outros sem olhos sequer, mas todos hirtos como um poste de electricidade fundido. O maior tem um olhar triste e mortificado. Para mim o mais bonito é o que parece que está a dormir, parece calmo. Mas todos choram uma prece que não se ouve, numa oração perpétua à espera de um milagre. Os Santo Antónios que trouxemos lá de casa. Foram as únicas memórias que ela desembrulhou dos caixotes. Esses continuam amontoados, atrás da porta, a zumbir segredos de cada vez que entro em casa. Pelo tilintar das latas soube que eras tu. Cheiravas a tinta, a gasolina e a metal. Vinhas carregado de sacos e de cores e aquele sorriso aberto ao mundo. Os mesmos óculos de sempre contra a mesma miopia de sempre, já catéticos,
-Já pensaste em comprar uns óculos a sério?
-P'ra quê? - e enfias os óculos até aos confins do teu bolso - eu vejo tudo o que preciso.

1 comentário:

  1. Encontrei a resposta que procurava: Não sei o que quero ser no futuro, só sei que quero ser mais feliz do que sou hoje.

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