domingo, setembro 27, 2009

Trapézio sem rede


Chega aqui...
Aparece com aquelas advertências sobre probabilidades
Cálculos sorridentes contra o imenso desconhecido
Folhas leves salgadas, tuas.
Achas que posso ficar tangente ao nada,
Ou os átomos esporádicos da existência
Não me dão autorização?

Emerge com ténues apontamentos musicais
Pousados nuns lábios que em tempos te tocaram,
Surge com essa geometria do avesso
Na minha maneira de caminhar
Cheia de arremesso
No peso da galáxia que contém cada som, nosso.
Trapézio sem rede, somos.

terça-feira, setembro 22, 2009

Registo tosco

É noite. Um quarto para amanhã.
Aspirar palavras ao infinito
Agora
É quase como desejar granizo
Num dia amarelo.
A vida é um registo tosco,Desfocado
Contrastado.
É um registo malfeito
Sem paradeiro.
Mas é noite. É amanhã.
É certeiro,
Como não saber onde nasce o vento
De onde vêm as palavras cansadas.



quinta-feira, setembro 17, 2009

Temporalidade&Finitude


Amachuco.
Volto a por a música
Levanto-me sento-me
Cruzo a perna
Levo as mãos ao cabelo...
Fecho a alma
E sinto-me lírica
Não muito calma
Mas transparente!!
Consciente??...
E as sombras
E o impulso
E a cadeira
Que baloiça, que treme
E o livro fervente
E o plástico queimado
Amachucado.
E as mãos no cabelo
Nos lábios,
E o olhar sozinho
E a tampa que perdeu a caneta
E reparar no calendário
Na agenda, no cenário!
Um susto!
O piano
Amachuco.
E o lápis que se fartou
E a viola intocável
Arrumada
Amachucada.
E o morder os lábios
Virar a cabeça para ambos os lados
E a saída que não tem entrada
E o cavalete estático
Montado
Amachucado.
E os cadernos em branco
E em branco os cadernos
E o não poder escrevê-los
E o não conseguir adivinhá-los
E os meus traços
Colados na mesa
E o não ter força
Para apagá-los
E a tela virada
E o sofá disfarçado
Amachucado.
E as conchas espalhadas
E as calças mal engomadas
E as molduras dobradas
...Amachucadas...


domingo, setembro 13, 2009

Esta conversa dava um grande poema

Eu é que gostava de entrar nos meus pensamentos
Porque eles é que entram em mim.

Isso é estranho, e complicado.

Perfeita descrição de mim!

Não, perfeita descrição de quem se acha estranho e complicado.

Ainda assim...
Para eu achar alguma coisa, algum nexo
É preciso estar num dia sim!

Para quê estar num dia sim?
Os pensamentos são iguais; a disposição é que não.
Dias sim em ti são raros.

Rara é a coerência na palma da alma
A beleza de um cabelo apanhado
Mas eu sou comum, comum a todas as palavras de um dia.

Lá está, coerência é coisa que andas a perder.
Que importam cabelos se o teu dilema são neurónios?
Dias sim em ti são raros...

Não sou eu que perco. É o que me rodeia
É quem tem sabor e já não o saboreia
E como os outros, são um espelho que nos reflectem
Fico-me pelos dias comigo.


Quem perde é quem não entende;
Para quê ficar nos dias contigo,
Se és mais feliz a apanhar os figos?

Então quero perder para não entender
Quero ficar nos dias contigo, com alguém!
Que isto de subir ás árvores e cair, desamparada, magoa.

Ficas-te nos dias contigo;
Queres subir às árvores sozinha;
Mas há um truque muito simples - chama uma vizinha!

Essa minha flor do norte,
Que o vento soprou, bem forte
Ninguém tem o que quer
Ninguém sabe o que quer
Eu só me queria sentar no chão!

E sobes às árvores?
Sem nada, sem alicerces?
Já te disse que isso não se faz!
Será que me não dás paz?
Ouve o que te digo,
Aprende comigo!
Põe-te de pé, anda em frente, sobe às árvores!
Mas não, sem um amigo...

Às vezes o tempo pára.
Oh sim ele estanca
Como uma hemorragia que quase que mata.
E eu penso, finjo que penso,
Qual árvore? Qual amigo?
Mas ando em frente, danço danço.


O tempo parou!
Logo, apenas nos teus pensamentos dançaste.
E ora aí está, porque se o fizeste, neles entraste!
Não era o que querias?

Parou e não passou
Pensei e deixei de saber
O que eu queria Tiago?
Só queria acreditar.

Mas o tempo não pode parar,
Não estás só a inventar?
Porque é bonito sonhar?
Será?
....Porque queres acreditar?
São perguntas a mais, para alguém como eu...


Quero parar de tentar salvar!
Só para eu poder respirar
Dar uma chancezinha a mim própria de acreditar
Que alguém um dia me vai salvar
Que não vou ser eu a alimentar
As poesias de quem não sabe rimar
Não tens respostas!!
Estás como eu...

Estou confuso, tu não?
...São ideias a que não dou uso...
Mas não queres, sei lá, pelo menos tentar?
É que como tu também não quero estar;
Se não tiver respostas, como posso voar?

Tento ir com o vento
Vendar os medos com uma fita de seda azul
Diz-me, tento. Como?
Mas não é com as respostas que se voa
É com as perguntas.

Voas com perguntas.
Queres aterrar com as respostas?
Dizias-me, "quero sentar-me no chão."
Tenho muitas perguntas na cabeça, tu não?
Se sim, estamos perdidos nas nuvens... E então?
Não é bom sonhar?
Mesmo assim, se te deixares levar
Vais acabar por não aterrar.
E algum dia terás que o fazer; andar com os pés assentes no chão...

O meu chão é o céu de alguém.
Mas estou a sorrir sabes?
Estou mesmo a sentir que não quero aterrar.
Que não há volta a dar.
Que sou um caso, entre tantos, a quem a vida soube e conseguiu lixar.
E depois??
Quero lá saber!!
...Sento-me só no chão para não me esquecer
De quem sou, e de quem nunca quero ser.
Anda para o meu lado!!!

E estou como tu? Nem pouco mais ou menos!
Tu voas por nuvens e sóis de climas amenos,
Eu escavo a terra
À procura de segredos.
Segredos esses, que estando envoltos em luzes e fantasia,
Não passam para ti de uma ilógica minoria.
O lixo de um homem é o tesouro do outro,
Porque o teu chão é o meu céu.

Meu anjo...


Obrigada Tiaguinho!

quarta-feira, setembro 09, 2009

HAPPY WOMEN


As contradições da vida
De encontrar na monotonia aquilo a que chamam de felicidade
A política de viver
E deixar transparecer
A nossa pele o nosso ser
Dentro da nossa cidade
Das voltas escolhas e acasos
De baixar os braços
Que a vida já me leva
Ela nunca acerta
E quando eu não penso
Existo muito mais
!

domingo, setembro 06, 2009


A nossa libelinha!!
Pronta para voar :)

Saborear no linear de tudo!


Da primeira vez que te vi,
Lembro-me de fixar o teu sorriso
Imperfeitamente pintado em ti.
Tens uma luz, tinhas o meu bilhete
Acho que quase que posso dizer
Que dessa primeira vez
Senti inconscientemente
A volta em que tu me ias levar!
Acho que me deste a mão
No meio daquela multidão e confusão,
Mal descemos pela primeira vez
A rampa do skate park e gritámos pessoal da box!!!
Porque naquele instante,
Era o começar de novo
Para mim e para ti.
O tempo escreveu-se a ele próprio
Mas nós passámos-lhe à frente!
Escrevemos nós o tempo,
Perdemos o medo
Fizeste um desenho do teu passado
E entregaste-moE eu colori a parte da folha que estava em branco
A parte que nos cabia a nós criar, desvendar!
"Becas! Estás com bigodes de carvão!!!"
Dizia-te eu lá no nosso cantinho,
Com rectas pouco directas
Que não nos facilitaram o caminho,
Mas eu e tu sorríamos e ainda sorrimos!
E tu ficavas toda atrapalhada
Enfiavas-te logo dentro da mala desarrumada
Em busca de um toalhete salvador!
E lá o encontravas e voltávamos às nossas geometrias
Penduradas no nosso céu turquesa lilás amarelo.
Toda aquela cidade,
Que antes de ti eu não a conhecia,
Não a saboreava, não decorava cada espacinho especial,
Descobri-a contigo!
A cidade azul e amarela
Com carrosséis
Paragens desencontradas
Curvas muito apertadas
Cafés solitários
Ruas, as nossas ruas que falavam connosco!
E mesmo no Outono,
Quando folhas caíram
Tu gritaste pela noite
Chamaste-me
Abracei-te
E quando te abraço o tempo não se escreve
Não se apaga
Pára
O ponteiro morre,
E eu sentia-te protegida
Segura de novo
Nos meus braços.
E o teu sorriso renascia
Tu desdobravas as asas
Como quem abre um livro
Pronta para uma nova história!
Todos os nossos jogos de basket
Nem que fossem de quinze segundos,
Eram preciosos
Acertávamos nos cestos certos!
Ainda sinto o cheiro
O cheiro da sensação
Será possível??
A sensação de caminhar ao teu lado
Dos nossos almoços
De gravar as nossas palavras
Naquela árvore deitada
Naquela árvore que nos cantava
Para não desistirmos.
Desafiar o nosso stôr de desenho
Mostrar-lhe que arte é muito mais que técnica

Arte é empenho, é a chama acesa em nós!
Arte é loucura e bravura para arriscar.
Vinte e dois de Maio de dois mil e nove
Lembro-me como se fosse ontem
Do nosso nervosismo horas antes
De todos aqueles ensaios mirabolantes!
De te dar a minha asa do mar
Para que assim pudesses voar alto e mais alto...
E quando te vi,
Lá à frente convincente
A bater o pé
A despir o pesado casaco branco
Foi um dos nossos melhores momentos
Senti-me leve leve leve
Que eu e tu somos capazes de fazer e enfrentar tudo!!
Hoje sei que todos estes momentinhos
Estão colados nas paredes da cidade azul e amarela
E são únicos.
Sei que amanhã
Iremos criar outros momentos
Outros poemas
Outros verbos
Noutras cidades, noutras ruas.
Sei isto porque tenho a certeza,
Por muito que o tempo nos escreva a nós
Nunca vamos mudar quem nos tornámos com o carrossel!
Nunca vamos crescer nem ficar adultas aborrecidas...
Vamos viajar, vamos saborear
Porque ainda nos faltam muitos "começar de novo" juntas!
E eu vou ter contigo ao Porto
Vamos à Amazónia descobrir a Cidade dos Deuses Selvagens,
Caminhar lado a lado
E a saborear a saborear!!!

Vamos borboleta??

terça-feira, setembro 01, 2009

Ele era o herói dela

Ele era o herói dela.
Os braços fortes e quentes que a abraçavam
O olhar brilhante que a mantinha segura
E a fazia sonhar.
Ele era quem a ia buscar
Quando ela era a última criança na creche.
Ele era o herói dela.
Ela dizia "Um dia quero ser como ele!".
Ela era a sua princezinha
A fotocópia dele, pequenina
A menina dos seus olhos
O seu orgulho.
Ela era frágil
Docemente teimosa
Lutadora.
Encantava com os seus canudos
Banhados pelo sol
Com os olhos iguais aos dele
Verdes azuis cinzentos amarelos
Uns olhinhos brilhantes iguaizinhos aos dele.
Era para ele
Que ela fazia, na creche,
Prendas.
"Miminhos" dizia ela sorridente,
Desenhos deles os dois juntos a passear
Gravatas às bolinhas
Papagaios de papel.
Ela adorava e era perita
A criar papagaios de papel.
Depois esperava ansiosamente
À porta da creche
Ansiosa por ser abraçada por ele
E só ele.
Ele era o seu único herói.
Fazia-a rir
Ia para ao pé dela
De manhãzinha,
Ver todos os filmes da Disney,
Preparava-lhe banhos de espuma
Com as suas bonecas,
Cozinhava pratos deliciosos
Só para eles os dois.
Dormia abraçado a ela
E ela sentia-se segura.
Fechava os pequenos olhos brilhantes
E dizia baixinho "Adoro-te papi..."
A menina dos olhos brilhantes cresceu.
O tempo passou por ela
Como um foguetão a alta velocidade.
Ela viu folhas caírem
Viu pessoas a irem
Sentiu ele sofrer.
E a princezinha
Ganhou uma dor no peito
Daquelas que se pensa serem temporárias,
Mas o tempo passou
Como um foguetão,
E a dor nunca se foi embora.
Ele perdeu todo o brilho dos olhos,
Como um prado verde
Que perde toda a sua cor num dia cinzento.
Ele deixou de sorrir
De a fazer sorrir.
O herói dela adormeceu
Num sono eterno.
Ela cresceu ainda mais
A dor no peito
Continuou no seu frágil peito,
E ela sentiu-se muito pequenina
Como uma formiga
Que ninguém consegue ver ou agarrar.
Os seus canudos desapareceram.
Ele já não era o herói dela.
Ela adormeceu.
Não havia ninguém, ninguém,
Ao seu lado
Que a abraçasse e fizesse sentir segura.
A menina dos olhos brilhantes
Fechou-os devagarinho
E disse baixinho para o escuro:
"Boa noite papi..."
Ele era o herói dela.