terça-feira, setembro 01, 2009

Ele era o herói dela

Ele era o herói dela.
Os braços fortes e quentes que a abraçavam
O olhar brilhante que a mantinha segura
E a fazia sonhar.
Ele era quem a ia buscar
Quando ela era a última criança na creche.
Ele era o herói dela.
Ela dizia "Um dia quero ser como ele!".
Ela era a sua princezinha
A fotocópia dele, pequenina
A menina dos seus olhos
O seu orgulho.
Ela era frágil
Docemente teimosa
Lutadora.
Encantava com os seus canudos
Banhados pelo sol
Com os olhos iguais aos dele
Verdes azuis cinzentos amarelos
Uns olhinhos brilhantes iguaizinhos aos dele.
Era para ele
Que ela fazia, na creche,
Prendas.
"Miminhos" dizia ela sorridente,
Desenhos deles os dois juntos a passear
Gravatas às bolinhas
Papagaios de papel.
Ela adorava e era perita
A criar papagaios de papel.
Depois esperava ansiosamente
À porta da creche
Ansiosa por ser abraçada por ele
E só ele.
Ele era o seu único herói.
Fazia-a rir
Ia para ao pé dela
De manhãzinha,
Ver todos os filmes da Disney,
Preparava-lhe banhos de espuma
Com as suas bonecas,
Cozinhava pratos deliciosos
Só para eles os dois.
Dormia abraçado a ela
E ela sentia-se segura.
Fechava os pequenos olhos brilhantes
E dizia baixinho "Adoro-te papi..."
A menina dos olhos brilhantes cresceu.
O tempo passou por ela
Como um foguetão a alta velocidade.
Ela viu folhas caírem
Viu pessoas a irem
Sentiu ele sofrer.
E a princezinha
Ganhou uma dor no peito
Daquelas que se pensa serem temporárias,
Mas o tempo passou
Como um foguetão,
E a dor nunca se foi embora.
Ele perdeu todo o brilho dos olhos,
Como um prado verde
Que perde toda a sua cor num dia cinzento.
Ele deixou de sorrir
De a fazer sorrir.
O herói dela adormeceu
Num sono eterno.
Ela cresceu ainda mais
A dor no peito
Continuou no seu frágil peito,
E ela sentiu-se muito pequenina
Como uma formiga
Que ninguém consegue ver ou agarrar.
Os seus canudos desapareceram.
Ele já não era o herói dela.
Ela adormeceu.
Não havia ninguém, ninguém,
Ao seu lado
Que a abraçasse e fizesse sentir segura.
A menina dos olhos brilhantes
Fechou-os devagarinho
E disse baixinho para o escuro:
"Boa noite papi..."
Ele era o herói dela.






4 comentários:

  1. Exactamente tudo aquilo que sinto um pouco com a minha mãe e um pouco com o meu pai...
    Vai ao meu blog xD tnho laa uma publicação inspirada neste teu poema lindo e perfeito :D
    Depois de o leres não te esqueças:
    Os herois continuam lá... Mas o brilho dos teus olhos é teu, sempre foi :D

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  2. Ele sera sempre o heroi dela, por muito que lhe falte a espada ou a capa comprida :)

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  3. ...sim! o heroi de cada um de nós não desaparece, esconde-se por detrás da propria nevoa do nosso olhar, não queremos ver, ele não se quer deixar ver...os sorrisos e abraços estarão sempre lá, no esfumar do tempo que ja foi...

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