quarta-feira, dezembro 23, 2009

Eléctrico do meio-dia


Pêsames é uma palavra tão feia.
Acho que até chega a ser uma não-palavra.
Sabes o que me lembro de ti? O cheiro a castanhas, nós mergulhados pelas ruas da menina Lisboa, eu era apenas uma pequena sonhadora de canudos dourados pelo sol aconchegador. Lembro-me de gatos, os teus gatos, e da minha relação com eles de puro e duro amor-ódio. E de uma casa de gelados. Cinco pormenores nossos. Antes que pudesse reagir, gritar, antes de mais nada a parede engoliu-me. Malandra não é? Dei por mim estava no chão mais o meu Sebastião, a tentar recuperar o fôlego completamente desatinado. Foi uma revolta por não teres estado presente, por eu não saber lidar com a palavra «morreste», por não conheceres a minha loucura, os meus rabiscos, a minha sede de voar cada vez mais alto. Desabou tudo, e nem sequer foi por ti. Foi pelos estranhos que tive de "conhecer" há um bocado enquanto tu estavas na sala ao lado... decerto não estavas, eles é que acreditam que sim. E lembram-se do meu herói? O poeta interventor de olhos verdes amarelos cinzentos? Hoje só quis ser abraçada por ele como há muito tempo não o queria. Todo o meu peso acumulado desmoronou sobre ele. Ele abraçou-me com a força de um avião, eu senti-me mais leve. Eu e o pai acreditamos na teoria do espírito livre. Que se estás, estás por aí, na cópula das altas árvores, amigo intimo de coloridos pássaros viajantes. E eu? Guardo em mim o cheiro familiar a castanhas e a imagem de uma menina de canudos dourados pelo sol de mão dada com um homem, que em tempos fora seu avô.


1 comentário:

  1. findingnevaland06 janeiro, 2010

    A vida é mesmo assim.. está sempre à espreita para pregar as suas partidas! mas nós continuamos cá para nos desviarmos e magicarmos ratoeiras.. um beijo minha mana!! mantém-te sempre orgulhosa e cabeça erguida =)

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