quarta-feira, novembro 18, 2009

O meu cão é cão como nós



Estás agora atracado aqui em baixo, nos meus pés. Pareces tranquilo, parece que agora sim, agora sentes-te em casa aconchegado. Chego a casa a correr, corro dentro de casa, digo-te olá à pressa e corro de novo para a rua. Olhas-me lá do fundo do corredor, com uns olhos tristes e saudosos. Nem me sentes não é? No meio desta correria... Há dias que entro pela porta e trago comigo o silêncio, pressentes logo. Afundo-me no sofá, enroscas-te a mim, aqueces-me. Muitas vezes desfaço-me abraçada a ti, torno-me átomo e tu silencias comigo, amparas as minhas dores, os meus medos, as minhas quedas. Sabes das horas, da rotina, dos pormenores mais pequeninos da minha alma, sabes dos gestos, das expressões, das pausas, do que só as paredes ouvem... Guardo em ti tudo o que sou e não sou. E sabes de cor e salteado o meu não-ser, o meu re-ser, melhor que ninguém. Recebes-me a todo o instante com um simpático abanar de cauda, piruetas em meu redor, abraças-me. A casa sem ti não é casa. É um chão vazio. Acordas-me com um levantar de orelhas amigável. E os teus olhos de mel dizem sempre tudo... Tal e qual como os meus. Tal e qual como nós.

1 comentário:

  1. (Quando li este texto, uma lágrima mais atrevida decidiu experimentar o mundo real. Até porque «a lágrima é uma sensação que escorrega» e esta sensação escorregou tão docemente...)

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