segunda-feira, novembro 16, 2009

Lua minha, teu Mar

Chovia a potes. À janela um último cigarro solitário. Somente as palavras desejaram caminhar, sílaba ante sílaba. Mas antes, engolir umas garfadas de massa da noite anterior, mastigar todas as crónicas não lidas da semana passada, ligar a televisão só para quebrar o silêncio que esculpia cada canto da casa vazia, passar a mão pelo carvão triste, encher o peito com mais uma lufada de ar, abraçar as tuas palavras adocicadas.
E agora sim, partir para a tal chuva da correria, que nos dissolve até à extrema das extremas pontinhas do verbo «sentir», para depois a única coisa que realmente podemos sentir é sentirmo-nos despenteados e «não-sentidos». Mas sobretudo despenteados e sentir também, que a nossa vida está completamente despentada, desgrenhada.
Saber aprender a conhecer os gestos que definem alguém é espantoso. É como saborear um chocolate muito devagarinho, sem pressa alguma ou como abrir um livro e deixar que as letras, os sons e os cheiros de cada página nos acariciem a alma, nas suas mais simples e genuínas formas de re-ser. Não são gestos premeditados nem algo que se pareça. Um arregaçar de mangas, um som esquesito ao falar, um passar vagaroso pelos cabelos, um encolher de ombros conhecido, um pôr de mãos nos bolsos, um olhar constante ao céu. A maneira diferente como toda a gente está, ama e é.

2 comentários:

  1. A chuva que ontem nos dissolveu, nos despenteou e desgrenhou ainda mais. A chuva que ontem nos habitou e que nos fez (des)sentir.
    Ter alguém, como tu, com quem conversar é que é 'como saborear um chocolate muito devagarinho, sem pressa alguma, ou como abrir um livro e deixar que as letras, os sons e os cheiros de cada página nos acariciem a alma, nas suas mais simples e genuínas formas de re-ser'. Sabias?

    «e grite: JÁ SOU»

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  2. MAR MEU, TUA LUA (aluadoro-te tanto, tanto, tanto, minha pequenina)

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