domingo, novembro 29, 2009

O inventor do mar

«Passamos por eles como se não existissem
Indiferentes, frios como rochas de gelo.
Caminhamos para o dia a dia
Sem olhar para o lado
Indiferentes àqueles corpos deitados no chão,
Esses corpos fazem parte
Desta sociedade maravilhosa
Onde habitam esses seres
Que se chamam humanos,
Esta raça preocupada em manter as aparências
Vai sobrevivendo
Consumindo todas aquelas lojas
Onde se vende objectos sem interesse nenhum.
Aqueles corpos continuam no chão
Parados no tempo,
Não consomem
Não fazem parte deste enredo,
Simplesmente parados no tempo
Não têm por onde ir
Os sonhos são miragens
Como água no deserto.
Despejam excrementos do seu corpo
Chocando os humanos
Pelo cheiro intenso a MERDA
Indiferentes a tudo
Incomodados pelo mau cheiro,
Lá vão caminhando pelas ruas
Tapando o nariz
Vivendo a sua vidinha
Felizes, aos saltos
Nas calçadas das ruas
Que são as camas de alguns
Indiferentes a tudo
Cegos mudos e surdos.
Como é que uma sociedade
Que se diz perfeita no caminho do progresso
Admite seres semelhantes,
Iguais a nós, de carne e osso
Embrulhados em caixas de cartão
(Não são prendas de Natal???)
São seres humanos iguais a nós
Indiferentes a tudo,
Continuamos a desfilar
Numa passerele
Falando das dificuldades
Da treta de vida que arranjámos...
Indiferentes a tudo.»


3 comentários:

  1. ainda outra dia ia a passear pela rua pela noite, com mais um grupo de pessoas. íamos todos para uma festa de anos, meninas tds mt arranjadinhas, demasiado mimadas, felizes por sairem da beirinha dos paizinhos, tds de vestidinhos a quererem parecer bonequinhas cm nos contos de fadas... Já as conheço a mt tmpo mas sá agr percebi cm são e percebi que são só mais um grupo... senti-me deslocada...
    atravessamos a passadeira a correr, elas vão tds aos berros a falar e a rir muito ato que não vêm o que está á frente delas do outro lado da passadeira.
    Um? Não, um casal agarrado, embrulhado em corbertores sobre um pedaço de cartão sobre um chão gelado, numa noite muito fria em que elas só queriam exibir as suas pernas nos seus vestidos... Aos menos os mendigos tinham alguém que verdadeiramente os acompanhava...

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  2. diz ao Inventor do Mar para continuar a «refrescar-nos» com estes banhos de realidade arrepiante e crua, para ele continuar a ser um poeta crítico (ou só poeta. o que importa? queremos é que SEJA)

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  3. (lembrei-me do Manel Maluco, sabes? e de tudo o que aprendi com aquele trabalho...)

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