sábado, setembro 10, 2011

Tapa-luz

Partir tornou-se passadiço. Os nossos limites, a boiar no oxigénio, à espera que alguém os sopre e lhes dê uma direcção. Agora é bom, é o completo. Sussurram-me contra a pele. Agora os dias são músicas pautadas sem cuidado. Os armários no alpendre não dizem o que são; ficam quietos e cansados, dispersos pela mesa da terra molhada, sem dizer o que hão-de ser. Não se dizem poéticos, os armários do alpendre, melhorias de tempo, meu mim de ti, às vezes.

Partir é o meu câmbio para com a vida, pensei naquela manhã (lembras-te?), numa daquelas manhãs em que acordo muito filosófica, anémica de tristeza e maus fados. Quando me sentei e desejei ter tudo, como uma criança mimada, com um torvelinho ruivo de cabelo ao vento e beiços de leite, quando me sentei assim e não pedi nada em troca. Partirmo-nos tornou-se fácil. Porque há decadências de gestos que não voltam atrás, e as cadeiras fingem sempre ter sombra. Sobe as escadas e volta-me a dar poemas tímidos num papel qualquer, que eu não me importo se é num papel qualquer, não faz mal se não formos poéticos.

Sem comentários:

Enviar um comentário