quarta-feira, abril 06, 2011

Volume I








O silêncio amachucado faz mais sentido que uma janela aberta. Interrompe-nos assim; com toda a sua necessidade de se exprimir. Passo quase todos os dias pelo correio, a ver se te encontro, porque me trazes poesia dentro de envelopes e porque me obrigas a olhar para dentro, à procura das minhas mesmas pausas. Há quem pense que o silêncio é incontínuo, que dura uma página, uma linha, uma letra, um ponto, um olhar. - (e o olhar vem antes ou depois do ponto?) - Que tipo de poeta é aquele que cola o silêncio na ponta dos dedos? Impressões digitais, meras volúpias luminosas... Passo quase todos os dias pelo correio, só a ver se me obrigas a falar. A interromper o silêncio e a amachucá-lo vaga, vagarosa e valiosamente: amachucado contra a minha mão. E já sem o quase, passo todos os dias por ti, a ver se me entregas linhas transformadas em versos que atiras de propósito para um canto de algum bloco de notas, blocos dos teus pensamentos, e pensamentos de quem dorme ao frio; de quem não sabe amachucar, dessa maneira, o silêncio.



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