segunda-feira, janeiro 11, 2010

Grão de açúcar do vento

Andei a manhã toda à procura de uma caneta vermelha (que pintasse a sério), mas nem uma, apenas tintas e mais cores amarrotadas pelo tempo. Reparei que enquanto devaneava por ali, olhavas-me lá de trás, numa espécie de meditação. Que raio estarias tu a pensar? Parecias falar com as árvores lá de fora e trazer pássaros escondidos nas mãos, como se de um sossegado segredo se tratasse. Aquela sala é uma máquina de lavar claustrofóbica, e tu assistias àquilo com um certo gozo no sorriso, a minha comédia matinal, o meu escancarar de janelas, protótipo pelo cano abaixo, eu a bater, literalmente, com a alma nas paredes brancas lisas frias. A minha caça ao tesouro, de uma caneta vermelha (que pintasse). Dei dois passos, mas tu já vinhas a topar a minha loucura desde há um bom bocado,
Já procuraste no armário? Costumam haver canetas por lá.
Pois, mas nem uma que pintasse (a sério). Era como se soubesses de tudo, do que eu um dia tinha sido, de quando ainda escrevia poemas rugosos em troncos de árvores, ficava sempre um grande espacinho em branco por dizer, em nós, a mim apetece-me sempre perguntar se estás bem, se amanhã vais estar na mesa da frente, a criar sóis verdes. Faço música de papel à janela e penduro-a, cheia de sonhos suspensos, algo de leve e ao mesmo tempo tão vagaroso, parar a chuva milímetros antes de ela adormecer na nossa cara. Fugi oficialmente, sendo um grão de açúcar, apenas movida pelo vento. Até breve.

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