terça-feira, junho 14, 2011

As escadas não estão encostadas à parede (Sally)


Achas que não quero um meio-termo. Achas que sei ser assim? (Mãe, não é assim tão mau estar irrequieta.). Noto, quando a erva está alta (É bom.), e é bom porque quando passo as mãos faz-me cócegas. Quando a erva está baixa gosto (Quero mais.), posso correr e não tropeço. A erva a meio de altura não me costuma aquecer o sorriso. Não me faz cócegas nas mãos porque não está suficientemente alta. (Quero o que o avô tinha). Não posso correr sem tropeçar, porque a erva está demasiado baixa. Achas que sei ser assim.

As escadas não estão encostadas à parede (Eu não quero ser como nós.) e  lá de cima eu só conseguia ver as luzes. Achas que as luzes me viam a mim Sally? Não subas as escadas se não souberes as falas. Não sejas o oitenta do teu oito. Sê só o oito. Sê só o oitenta. Achas que não quero um meio-termo? (Mas sim naquele quadro.). As escadas encurvam-se e endireitam-se em medos e forrós de meia-noite. Assusta-me os nãos repentinos. O quiproquó que nos faz voltar. Melopeias indistintas de gestos encadeados, palavras que se seguem umas às outras, formando um rastilho, apagando um caminho que pensavamos ser nosso. Só nosso. 

O papel caiu-me para a direita, não sei as falas mas subo as escadas à mesma. Imagino o cenário, lembra-te das diagonais, de um lado a cadeira, do outro o quadro. Estás na tua sala. Na cadeira está a tua mãe. O quadro foi pintado pelo teu avô. Acho que não sei ser assim. (Como esta rapariga) Assim. (Como esta rapariga que o avô pintou.). Assusta-me, e se for preciso grita comigo. (Correr para cima e para baixo). Lembra-me da inconstância das coisas, chama-me leviana (O mar, as montanhas, as coisas), e quando te fores embora não feches a porta que eu vou estar a ensaiar as palavras no corredor, e vou ter as mãos nas paredes, nos reflexos,a tentar reconhecer-me. (E não perguntem por ela, ela deixou o nome.)

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