Duas cadeiras.
Eu oiço. Tu ouves-me.
(e então?)
Eu falo. Tu finges que falas.
(silêncio)
Silêncio.
E eu sou a casa. Tenho a mão nos quadros acastanhados, que vigentes, que amarelados. O corredor pequenino pequenino, espectros de memórias. Memórias?
(memórias)
Onde?
(aqui)
Já não.
(então?)
Imagina que o Sol desaparecia, muito muito tempo, demasiado tempo, que sim, o Sol também fingia.
(suspiro)
Pois. Já lá vai num bolso fundo, esqueci-me.
(do Sol?)
Silêncio
(silêncio)
Silêncio.
De mim.
(silêncio).
Uma cadeira.
Eras pequenina e arrebitada, não gostavas do corredor porque era escuro e estreito, fazia-te confusão os gatos serem tão quietos e carrancudos e sossegados. Mas lá vinhas toda desengonçada sentar-te ao meu colo, com o Sol na mão, abraça-me que é tarde. Abraça-me que os quadros são mentirosos, abraça-me que assim não berro, que assim sou eu.
Caleidoscópiasente, segredaste-me.
.
...que brisa quente, nos dias de sol desmedido...
ResponderEliminar"V"