quarta-feira, março 10, 2010

Caleidoscópiasente






Duas cadeiras.





Eu oiço. Tu ouves-me.



(e então?)





Eu falo. Tu finges que falas.





(silêncio)





Silêncio.





E eu sou a casa. Tenho a mão nos quadros acastanhados, que vigentes, que amarelados. O corredor pequenino pequenino, espectros de memórias. Memórias?





(memórias)





Onde?





(aqui)





Já não.





(então?)





Imagina que o Sol desaparecia, muito muito tempo, demasiado tempo, que sim, o Sol também fingia.





(suspiro)





Pois. Já lá vai num bolso fundo, esqueci-me.





(do Sol?)





Silêncio





(silêncio)





Silêncio.





De mim.





(silêncio).





Uma cadeira.



Eras pequenina e arrebitada, não gostavas do corredor porque era escuro e estreito, fazia-te confusão os gatos serem tão quietos e carrancudos e sossegados. Mas lá vinhas toda desengonçada sentar-te ao meu colo, com o Sol na mão, abraça-me que é tarde. Abraça-me que os quadros são mentirosos, abraça-me que assim não berro, que assim sou eu.

Caleidoscópiasente, segredaste-me.
.






1 comentário:

  1. ...que brisa quente, nos dias de sol desmedido...
    "V"

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